Uma parceria entre pesquisadores da Universidade de East London, na Inglaterra, com arquitetos do escritório Grimshaw e a fabricante Tate & Lyle Sugar resultou na criação de um concreto de cana-de-açúcar. O material surgiu do trabalho de busca por soluções para construção utilizando biorresíduos como recurso principal, com o objetivo de desenvolver componentes de construção de baixo carbono.
De acordo com o relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), lançado na COP27, a construção civil respondeu por mais de 34% da demanda de energia e 37% das emissões de CO² relacionadas a processos em 2021. Por isso, a cana-de-açúcar pode ajudar a reduzir as emissões de carbono no setor.
Para a fabricação do sugarcrete foi utilizada modelagem digital avançada e fabricação robótica. O novo material, que utiliza bagaço da cana-de-açúcar, apresenta propriedades mecânicas, acústicas, de fogo e térmicas de alta qualidade, tendo sido testado de acordo com os padrões da indústria para resistência ao fogo, resistência à compressão, condutividade térmica e durabilidade.
Um dos principais benefícios do concreto de cana-de-açúcar é que suas emissões de carbono são 20 vezes menores do que o concreto tradicional, além de ser cinco vezes mais leve que o material clássico, com produção mais barata. Mas não é só isso. Dentro do Instituto de Pesquisa de Sustentabilidade da universidade britânica, foram realizados testes promissores com os protótipos, apontando o potencial de uso do produto como painéis de isolamento, blocos de suporte de carga, pisos estruturais e lajes de telhado.
Para os pesquisadores, a chave do projeto do concreto de cana-de-açúcar é desenvolver uma tecnologia e um resultado de produção que utilize biorresíduos do bagaço em seu contexto local. Desse modo, os desenvolvedores afirmam que parceiros do projeto estão identificando locais no sul global que produzem açúcar, com a intenção que o sugarcrete seja testado em colaboração com organizações locais.
Os pesquisadores ressaltam que a reciclagem do bagaço pode ajudar a desenvolver soluções de construção feitas localmente para comunidades produtoras de açúcar no Sul global, onde os materiais de construção são frequentemente importados, com baixo desempenho ambiental, alto custo e alto teor de carbono.
Concreto sustentável é opção para diminuir consumo de materiais
Já abordamos em nosso site outras alternativas de sustentabilidade na área de construção civil, como o concreto sustentável, desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Arquitetura e Urbanismo em parceria com a Escola de Engenharia da Universidade de São Paulo (USP).
Ao contrário do concreto tradicional, o sustentável substitui porções de cimento, brita e areia por outros materiais como areia de fundição, utilizada na fabricação de moldes de peças metálicas, e escória de aciaria, resíduo da produção do aço. O benefício ambiental é que esses resíduos da indústria voltam para a cadeia produtiva, misturados ao concreto ao invés de serem descartados no meio ambiente.
Contudo, ele ainda não é indicado para fins estruturais, pois é necessário tempo de observação de 20 anos para poder atestar ou não sua eficiência. Logo, a orientação é pela segurança das construções. Em virtude disso, o concreto sustentável normalmente é utilizado apenas para construções de pavimentações, calçadas e contrapisos. Esse tipo de obra é totalmente apoiada no chão e não tem função de sustentação, diferentemente de paredes, pilares ou vigas, por exemplo.